Esta comunicação propõe uma análise semiolinguageira sobre a representação e representatividade negra em livros ilustrados destinados ao público infantojuvenil. A análise fundamenta-se nos pressupostos teórico-metodológicos da Teoria Semiolinguística, tendo como base o duplo processo de semiotização do mundo, o contrato de comunicação do livro ilustrado, a identidade dos sujeitos da linguagem, os imaginários sociodiscursivos sobre raça, os modos de organização do discurso e a dimensão argumentativa do narrar. Partimos da premissa de que a literatura em países submetidos à colonização constitui-se de letramentos hegemônicos que, diacronicamente, materializam nas obras literárias imaginários e estereótipos negativos sobre minorias étnico-raciais, estabelecendo relações de força, hierarquia e dominação. Por ser a literatura um espaço simbólico de poder, ocupado historicamente pelo grupo racial hegemônico, analisar a representatividade negra em obras literárias é, por um lado, uma necessidade de investigar em que medida o quadro de invisibilidade e sub-representação/estereótipos tem sido enfrentado pelas instâncias de produção literária e, por outro, uma forma de analisar como essas instâncias, projetando uma argumentação implícita na narrativa verbo-visual, têm mobilizado elementos linguístico-discursivos para compor uma proposição representativa/antirracista. Partimos da hipótese de que entre a representação e a representatividade há um continuum que vai da mera inserção de personagens negros na história (existência) à efetiva representatividade da obra literária (resistência) como enfrentamento ao racismo estrutural, institucional e sistêmico. Como Feres (2023), defendemos que a literatura infantil, em um cenário de obras mais comprometidas com a valorização das diferenças, engajadas na luta contra o racismo, pode conscientizar, humanizar o público leitor, fazendo-o lidar com suas emoções, afetos, crenças/imaginários, provocando reflexões sobre empatia e respeito às diferenças. Para analisar a semiose verbo-visual dos livros ilustrados e sua dimensão argumentativa no modo narrativo, além da Semiolinguística, fundamentada em Charaudeau (2004; 2005; 2008; 2013; 2018) e Feres (2019; 2023), recorremos a um aporte interdisciplinar com teóricos como Amossy (2011; 2018), Coelho (2000), Cavalleiro (2001, 2020), Fanon (2008) e Street (2014). Para a análise, selecionamos o corpus constituído pelos livros ilustrados: “Ciça” (POSSATTI, 2004); “Menina bonita do laço de fita” (MACHADO 2011), “O Pequeno Príncipe Preto” (FRANÇA, 2020) e “Da minha janela (JÚNIOR, 2022). A partir dessa investigação qualitativa, analisamos como as relações entre palavra-imagem, numa dimensão argumentativa do ato de narrar, constroem a representatividade negra, rompendo estereótipos e imaginários raciais negativos para uma valorização efetiva identidade negra.
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